Quando pensamos no Capitalismo Consciente como “o melhor que temos” com essa suposta nova cara, a qual promete ser menos segregadora, mas ainda assim o será, porque menos não é o mesmo que nada, é fundamental que nos questionemos: esse sistema é melhor para quem e para quantos? E as respostas sempre esbarrarão em pobres que servem ricos, burguesia controlando o proletariado e outras encenações neoliberais.
Recentemente, ao ler uma entrevista concedida à Revista Ponte, deparei-me com reflexões acerca do tema “educação e Capitalismo Consciente”. Nela, o entrevistado Marcelo Policarpo sugeriu que são possíveis mudanças efetivas na educação contemporânea, sob o prisma de uma formação mais holística e integradora, e que deixem um legado positivo para as próximas gerações, o qual esteja ancorado nesse “novo” modelo econômico. Aliadas ao modelo educacional e ao Capitalismo Consciente, estariam as grandes corporações dispostas a receber profissionais construídos também sob essa “nova proposta educativa”, uma vez que elas não têm como objetivo, nessa nova roupagem do Capitalismo, o [...] “lucro pelo lucro, mas supõem a necessidade de que (...) encontrem o seu propósito social [...]”.
Inicio a réplica à entrevista deixando um convite para pensarmos a problemática que o próprio termo “Capitalismo Consciente” carrega. Ao lançarmos um olhar histórico e pragmático sobre esse sistema econômico, é possível concluir que a força motriz que mantém suas engrenagens em funcionamento é a exploração, no sentido mais perverso da palavra, de mão de obra e recursos naturais. Para que o Capitalismo funcione e alcance seu objetivo principal, ou seja, a concentração do lucro sob o poder de poucos, é necessário que haja estratificação de pessoas, gêneros, etnias, profissões, poderes, classes. Assim, é importante refletirmos sobre a palavra consciente como uma extensão de sustentabilidade, e não é possível que exista um sistema essencialmente sustentável e justo que enriqueça alguns em detrimento de outros, que crie pirâmides de pessoas colocandas em escala de mais ou menos importantes e bem-sucedidas.
Quando pensamos no Capitalismo Consciente como “o melhor que temos” com essa suposta nova cara, a qual promete ser menos segregadora, mas ainda assim o será, porque menos não é o mesmo que nada, é fundamental que nos questionemos: esse sistema é melhor para quem e para quantos? E as respostas sempre esbarrarão em pobres que servem ricos, burguesia controlando o proletariado e outras encenações neoliberais.
Dito isso, pensemos agora sobre os profissionais formados a partir desse “inovador” sistema educacional voltado, único e exclusivamente, vale ressaltar, para atender as demandas das grandes corporações, e não aos interesses individuais. Os altos cargos, com status social elevado e salários atrativos, os quais seriam então ocupados pelas pessoas formadas sob a égide da educação holística, são apenas uma fatia da estratificação de pessoas que, aparentemente, seria mais justa. Porém, esse modelo econômico continua colocando às margens profissionais nos ditos “subempregos”. O Capitalismo precisa que estes postos de trabalho também estejam ocupados, na maioria das vezes, por indivíduos que não tiveram acesso à educação de melhor qualidade. E então chegamos a outras questões: educação holística para quem? Onde ela seria aplicada diante das diversas e trágicas realidades da educação? A resposta mais uma vez esbarra na dicotomia ricos e pobres.
É preciso entender que não é possível existir no Capitalismo, tenha ele um visual mais soft ou não, uma educação emancipadora que seja pensada para estar aliada a ele, porque o sistema, em sua essência, é exploratório e excludente e esses processos por si já deveriam ser contrários a qualquer teoria e práxis educacional. No Capitalismo não há como prever pessoas emancipadas, que sigam destinos profissionais que bem entendem, já que o mercado delimita quem se insere nele. Se um profissional não atende as exigências do mercado ou se demonstra insatisfação em relação a essa "teia", entra em ação a máxima do “se tu não quer, tem quem queira”. O Capitalismo é totalmente consciente de suas devastações, do uso desmedido de recursos sem permitir que eles se restabeleçam em seu tempo, do sistema de classes e das desigualdades que ele provoca ao manter o poder econômico nas mãos de poucos para que a engrenagem não pare. O Capitalismo soft parece-me mais uma estratégia das grandes corporações/ricos na busca por tentar convencer-nos de que esse sistema econômico tem possibilidade de dar certo - barrando, assim, ações coletivas organizadas (e de fato revolucionárias) para vislumbrar um próximo século em que o planeta não sucumba às devastações que esse mesmo modelo econômico ocasiona. Mas a questão é: século XXII para quem?!
Natália Verneque Abreu é professora de Língua Portuguesa e Produção Textual. Atua em escola do setor privado, ministrando aulas para alunos dos Ensinos Fundamental II e Médio, além de produzir conteúdo para modalidade EaD.
Este artigo foi importante para a sua reflexão? Então apoie a Revista Ponte e ajude a manter o nosso trabalho de pé. Conheça o nosso projeto de financiamento coletivo no Catarse.
Acesse revistaponte.org
Comments