Neste relato, professoras e alunas participantes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) compartilham reflexões sobre os impactos da pandemia no cotidiano de ensino e aprendizagem na Educação Superior, a partir de experiências que perpassam a reinvenção da educação na atualidade. Nesse contexto, o Ensino Remoto Emergencial tem sido uma estratégia para manter os vínculos institucionais e o desenvolvimento de práticas diversas.
Fonte: Pixabay
No ano de 2020, em decorrência da pandemia da COVID-19, a educação escolar, em todos os níveis, etapas e modalidades, foi convocada a repensar os seus processos. No que tange à Educação Superior, notou-se a adoção do Ensino Remoto Emergencial – possibilitado pelo parecer nº 5 de 2020, do Conselho Nacional de Educação (CNE), aprovado em 28 de abril de 2020 e homologado em partes pelo MEC, em 1º de junho de 2020. Com relação à Educação Básica, especificamente no Estado de Minas Gerais, as escolas estaduais também adotaram formas de estudo remotas. Assim, foram necessárias várias mudanças no sistema educacional para que os processos de ensino e aprendizagem aconteçam, apesar dos diversos obstáculos, sejam eles relacionados ao acesso à internet ou às condições de organização familiar. Essa readaptação tem buscado proporcionar ambientes de estudo adequados e, no caso da educação básica, adultos que possam dispor de tempo e conhecimento suficientes para mediar o processo de ensino escolar nos lares.
Aulas síncronas, assíncronas, atividades impressas disponibilizadas para os(as) responsáveis buscarem nas escolas, reuniões, aulas gravadas, entre diversos outros elementos constituem as tentativas das instituições de ensino de continuarem o processo educacional, mesmo que a distância.
Os métodos de ensino passados, que perpetuam até os dias atuais, tiveram de ser totalmente adaptados para esse novo cenário pandêmico, em que as escolas tiveram que abrir mão de seus principais sujeitos, os(as) estudantes, em ambientes presenciais de ensino. O espaço, agora, é virtual e materializado pelo chamado Ensino Remoto Emergencial, no qual as práticas pedagógicas estão sendo vivenciadas por meio de canais digitais.
Não obstante as possibilidades trazidas pelas novas tecnologias e o protagonismo destas no momento atual, é importante salientar que as mudanças também culminaram no acirramento de desigualdades sociais. Assim, atentar-se aos problemas enfrentados por esses grupos mais vulneráveis é essencial, levando em conta que esses problemas se iniciam quando há uma diminuição de possibilidades de acesso à educação a distância. Então, há a necessidade de reinventar metodologias de ensino para tentar incluir a todos/as. Mesmo porque, conforme pondera Santos (2020, p. 15) “Qualquer quarentena é sempre discriminatória, mais difícil para uns grupos sociais do que para outros, e impossível para um vasto grupo de cuidadores, cuja missão é tornar possível a quarentena ao conjunto da população.” Nesse contexto, a parte da população mais acometida pela pandemia refere-se aos “[..] grupos que têm em comum padecerem de uma especial vulnerabilidade que precede a quarentena e se agrava com ela” (SANTOS, 2020, p. 15).
Desse modo, observa-se que o desenvolvimento das atividades atuais do Pibid estão sendo desafiadas a refletir e intervir neste contexto, considerando tanto a diversidade dos(as) estudantes das escolas estaduais envolvidas quanto o processo de planejamento, formação e intervenção das(os) estudantes de Pedagogia no processo educativo escolar.
O REINVENTAR DAS PRÁTICAS DO PIBID PARA O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL
O Pibid (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência é um programa do Ministério da Educação que oferece bolsas de iniciação à docência para graduandos(as) da primeira metade da licenciatura, conciliando a teoria com a prática e articulando a educação superior e as escolas dos sistemas estaduais e municipais.
Um dos objetivos do programa é promover, desde o início da formação, reflexões acerca do cotidiano escolar das instituições públicas e desenvolver projetos buscando atingir objetivos que contribuam para a melhoria do ensino público. Além disso, o programa busca despertar o interesse dos(as) alunos(as) envolvidos(as) no programa para com a construção de novas metodologias dos conteúdos ministrados em sala de aula, visando o aumento da interatividade dos(as) educandos(as).
Além disso, o Pibid proporciona experiências para práticas docentes, visto que, quando um(a) professor(a) chega à sala de aula somente com os conhecimentos teóricos que a graduação proporciona, ele(a) está capacitado(a) o suficiente para ensinar, mas ainda não possui todo o conhecimento prático inerente ao contexto social de uma escola.
E, por isso, é importante destacar o Pibid, visto que cada graduando(a) desse projeto, quando formado(a), se inserirá no campo educacional com experiências e vivências significativas. Depois de participarem no Pibid, já no momento da atuação profissional, estarão com uma visão pré-definida da escola enquanto espaço onde a educação se desenvolverá como o processo amplo que é. Nas palavras de Mizukami:
A docência é uma profissão complexa e, tal como as demais profissões, é aprendida. Os processos de aprender a ensinar, de aprender a ser professor e de se desenvolver profissionalmente são lentos. Iniciam-se antes do espaço formativo das licenciaturas e prolongam-se por toda a vida, alimentados e transformados por diferentes experiências profissionais e de vida. Assim, por excelência, a escola constitui um local de aprendizagem e de desenvolvimento profissional da docência (MIZUKAMI, 2013, p. 23)
Mizukami ressalta a importância de aprender a ensinar e a ser um(a) professor(a), posto que essa preparação é fundamental por proporcionar aos docentes uma maior segurança para as práticas e atuação nas escolas. Portanto, pode-se concluir a grande importância que o Pibid tem para o processo formativo, como salienta o estudo realizado em 2014 pela Fundação Carlos Chagas, em cuja análise se verificou
(...) que o Pibid vem criando condições para um processo de formação consequente para o desenvolvimento profissional dos docentes de modo que possam participar do processo de emancipação das pessoas, o qual não pode ocorrer sem a apropriação dos conhecimentos. O papel da docência na educação básica é vital na preservação de nossa civilização e no desenvolvimento das pessoas como cidadãos que possam ter participação efetiva para a melhoria das condições de vida em suas comunidades (GATTI, et al., 2014, p. 107)
Ou seja, além de ser uma contribuição para a formação dos docentes e dos profissionais da educação, o Pibid também é de suma importância para toda a comunidade em que a escola se encontra envolvida. Todos se beneficiam com o preparo prévio docente e com uma formação de qualidade envolvendo a teoria e a prática. Sendo assim, os docentes podem proporcionar maior abertura e diálogo para o mundo educacional.
Considerando a parte prática do Pibid, atualmente, vemo-nos em um contexto diferenciado no que se refere às atividades realizadas, pelo fato de estarmos inseridos em um Ensino Remoto Emergencial. Sendo assim, as práticas do Pibid tiveram de ser reinventadas para que fosse possível prosseguir com as atividades nas escolas, contemplando todos os sujeitos envolvidos. Esse processo de readaptação foi complexo, pois, com as escolas fechadas, se tornava inviável a realização das atividades do Pibid. Para que não houvesse a paralisação das atividades práticas do programa, visto que o projeto tem uma grande importância tanto na formação dos licenciandos quanto no cotidiano das escolas e dos alunos, implementaram-se novas estratégias para dar continuidade ao processo.
Durante essa adaptação, temos nos dedicado para que os trabalhos sejam realizados de modo eficaz ao reinventar as práticas através de ferramentas digitais. Entre as possibilidades de incluir efetivamente as práticas do Pibid a partir dos meios tecnológicos, podemos citar: i) Diário de Bordo Digital, para registros de vivências e de acontecimentos durante o período referente a todo o programa; ii) Grupos de WhatsApp, para interação dos participantes, partilha de informações e sugestões; além disso, o Whatsapp servem também para acompanhar os grupos de comunicação já existentes entre os profissionais das escolas e as famílias dos alunos, bem como para repassar as atividades que deverão ser realizadas em casa; iii) Lives e Webinários educacionais relacionados às temáticas debatidas em aula; iv) Perfil do Pibid da Pedagogia no Instagram, com o objetivo de compartilhar os projetos realizados, as reflexões acerca das experiências e dos assuntos abordados no programa, que são discutidos em reuniões via plataformas digitais; v) Criação de um Drive para compartilhar os projetos, atividades e registros realizados durante o período de Ensino Remoto Emergencial; vi) E-mail para repassar informações essenciais sobre programa, os encontros e comunicados importantes.
Assim sendo, foi necessário entender o contexto de isolamento social durante a pandemia do Coronavírus e encarar os novos desafios para recriarmos as nossas práticas. Porém, as ferramentas virtuais ao nosso alcance são um diferencial que nos possibilita a realização do Pibid de forma remota, além de planejamentos futuros para os projetos que serão efetivados no retorno ao ensino presencial.
COMO CITAR ESTE ARTIGO:
BONCOMPAGNI, A.L.; MAIA, T.L.; MAIA, V.M.; MARTINS, J.C.; OLIVEIRA, A.G.; RUAS, T.S.; SILVA, A.L.R.; SOUZA, L.C. “Escolas fechadas... e agora? O PIBID em tempos de Ensino Remoto”, em Revista Ponte, v. 1, n. 4, mai. 2021. Disponível em: https://www.revistaponte.org/post/escolas-fechadas-pibid-tempos-ensino-remoto
Thatiane Santos Ruas, Ashiley Luisa Rodrigues da Silva, Aline Gonçalves de Oliveira, Laura Carvalho de Souza, Ana Luiza Boncompagni, Tatiane Letícia Maia, Viviane Milena Maia e Janaína da Conceição Martins são pesquisadoras do Programa Institucinal de Bolsas de Iniciação à Docencia (PIBID), subprojeto Alfabetização Matemática, no curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).
Este artigo foi importante para a sua reflexão? Então ajude a Revista Ponte a manter este projeto e conheça o nosso projeto de financiamento coletivo no Catarse.
Referências:
GATTI, Bernardette et al. Um estudo avaliativo do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). São Paulo: FCC/SEP, 2014.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Portaria No 544, de 16 de junho de 2020. Diário Oficial da
União. Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-544-de-16-de-junho- de-2020-261924872>. Acesso em: 01 dez. 2020.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LIMA, Telma Cristiane Sasso de; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Rev. katálysis, Florianópolis, v. 10, n. spe, p. 37-45, 2007.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. São Paulo/Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO, 1994.
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Escola e desenvolvimento profissional da docência. In: GATTI, B.A. et al. Por uma política nacional de formação de professores. São Paulo: Editora Unesp, 2013.
REZENDE, Joffre Marcondes de. EPIDEMIA, ENDEMIA, PANDEMIA, EPIDEMIOLOGIA. Revista De Patologia Tropical / Journal of Tropical Pathology, Goiânia, v. 27 (1): 153-155, 1998.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra – Portugal: Almedina, 2020.
Muito bom o conteúdo, irá me ajudar na construção de um artigo sobre o tema.