A Revista Ponte nasce com o objetivo de, no âmbito da chamada lusofonia, criar (novos) caminhos entre a divulgação científica e a escola, criando, assim, pontes e pontos de encontro para a construção de uma educação mais humanizada, mais cidadã e mais ancorada numa consciência global.
Para o lançamento desse projeto que pretende contemplar as realidades educacionais e científicas de todos os países de língua oficial portuguesa, convidamos a poeta brasileira Júlia Zuza, que nos brinda com um poema em homenagem à lingua portuguesa que nos une em várias latitudes e longitudes deste planeta.
Boa leitura!
Fonte: Pexels.
Eu vou beijar a língua portuguesa*
Eu vou beijar a língua portuguesa
trocaremos um beijo
de salivas sotaques suores sangues
quero sua língua
me lambendo os olhos
e me beijando os ouvidos
eu vou beijar a língua portuguesa
fazer uma respiração boca a boca
para ressuscitar palavras
cânhamo
ósculo
víspora
eu vou comer a língua portuguesa
morder sua polpa macia de sol
suculenta manga
de vogais e verbos
eu vou transar com a língua portuguesa
sem pressa nem medo
tocar com o dedo
o seu pulsar forte pulsar
nós duas nuas
em pelo e pronome
mais vivas do que antes
mais carne do que nunca
eu quero ter um filho com a língua portuguesa
essa língua de tantas gentes
muitas latitudes e longitudes cabem numa língua
língua ora casa ora prisão
mas é a minha língua
por isso na hora certa
quando o fim se aproximar
irei me oferecer em sacrifício
morrendo com a língua portuguesa na boca
sentindo o gosto inaudível
da última palavra
na ponta da minha língua.
* Júlia Zuza é mineira de Belo Horizonte. É autora de Brilha quando foge (Urutuau, 2019) e doutoranda em literatura pela Universidade de Coimbra. Participa em sessões de leituras poéticas e organiza saraus literários.
Créditos: Ludmila Loureiro.
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