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Metodologias Ativas x TDIC: entendendo conceitos





Muitas vezes encontramos as expressões “metodologias ativas” e “tecnologias digitais de informação e comunicação” na mesma frase, de modo que muitas pessoas acabam por confundir estes conceitos. Para fazermos uma reflexão sobre esse assunto, o primeiro passo é entender de fato qual é o significado de tais expressões, em que se diferenciam e em que se aproximam.


De maneira simples, as metodologias ativas podem ser definidas como um conjunto de estratégias de ensino em que o aluno é protagonista, ativo e construtor do seu próprio conhecimento.


As metodologias precisam acompanhar os objetivos pretendidos. Se queremos que os alunos sejam proativos, precisamos adotar metodologias em que os alunos se envolvam em atividades cada vez mais complexas, em que tenham que tomar decisões e avaliar os resultados, com apoio de materiais relevantes. Se queremos que sejam criativos, eles precisam experimentar inúmeras novas possibilidades de mostrar sua iniciativa (MORÁN, p. 17, 2015).


Já as TDIC’s, que é a sigla para Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação, compreendem as tecnologias que englobam recursos como computadores, tablets, mídias, smartphones, quadros interativos, aplicativos e outros recursos digitais que permitem a interação, compartilhamento, edição de vídeos e imagens, troca de arquivos, entre outros. Na BNCC, a competência número 5 propõe que, durante a educação básica, o sujeito seja desenvolvido para compreender, utilizar e criar as TDIC’s de forma “crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva” (BNCC, 2017).


O professor não pode ser mais visto como o único detentor do conhecimento, uma vez que a internet, que está nas mãos de todos, disponibiliza um acesso de maneira ampla e irrestrita a qualquer tipo de informação. O acesso a qualquer tipo de conhecimento é tarefa fácil, mas ser um cidadão crítico a ponto de entender se essas inúmeras informações são confiáveis ou não é uma competência desenvolvida com a mediação de professores.


Durante este tempo de ensino remoto, implantado em muitos países do mundo devido à pandemia da COVID-19, tem sido comum relacionar as metodologias ativas com as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) sem ter-se em conta que o uso dessas tecnologias apenas como forma de aplicação de conteúdo de maneira convencional nada tem a ver com Metodologias Ativas – pelo contrário, podem dificultar o engajamento dos alunos em função da distância física. (ANASTÁCIO, 2021).


A suspensão das aulas presenciais e o uso de ferramentas digitais para a continuidade dos estudos de maneira abrupta, muitas vezes, apenas trocou o chão da sala de aula pelas telas digitais. Por outras palavras, a maneira tradicional de ensino (que não se utiliza de metodologias ativas) começou a ser realizada (e mantida) através das telas. O resultado dessa ação foi um apagão dos rostos dos alunos e, para além disso, uma confusão conceitual entre Metodologias Ativas e TDIC’s, como se estas expressões fossem equivalentes ou até mesmo semelhantes.


É preciso entender que as TDIC permitem várias possibilidades, dentre elas: o registro, a visibilização do processo de aprendizagem de cada um e de todos os envolvidos, o mapeamento dos progressos. Além disso, elas podem apontar as dificuldades, podem prever alguns caminhos para os que têm dificuldades específicas (como em algumas plataformas adaptativas), podem facilitar as formas de comunicação (em redes, em grupos, individualizada), é de fácil compartilhamento, de coautoria, de publicação, de produção e de divulgação de narrativas diferentes etc. São muitas as possibilidades das tecnologias digitais de informação e comunicação, porém, sem políticas públicas para a formação permanente dos profissionais de educação para o trabalho com essas tecnologias, estas só serão o meio digital de troca para a tentativa de transmissão de conhecimento, mantendo o ensino tradicional que encontrávamos em muitas salas de aulas antes da pandemia.


Em relação às metodologias ativas, práticas como os modelos de Rotação por Estações, o Laboratório Rotacional e a Sala de Aula Invertida são mais difundidas e implementadas nas práticas educacionais usando as TDIC’s. Porém é fato que existem outras metodologias que podem também criar condições para que os estudantes sejam mais engajados e ativos nos processos de ensino e aprendizagem, como, por exemplo, a aprendizagem baseada na investigação, aprendizagem baseada em problemas.


Desta maneira, é perceptível que as metodologias ativas e as tecnologias digitais de informação e comunicação equivalem a conceitos diferentes e que, contudo, podem se complementar por suas respectivas potencialidades. Os professores e as professores precisam estar atentos e atentas ao que é uma metodologia ativa e ao que é uma TDIC, buscando práticas docentes que façam com que esses dois conceitos se complementem e se apoiem no labor educativo em tempos de pandemia.




Liliane Rezende Anastácio é doutoranda em Educação pela Universidad Nacional de Rosario (Argentina), mestre em Matemática pela Universidade Federal de São João del-Rei, licenciada em Matemática (PUC Minas) e em pedagogia (Centro Universitário de Maringá). Atualmente é professora e chefe do Departamento de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Minas Gerais.



 

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Bibliografia:


ANASTÁCIO, Liliane Rezende. “Metodologias Ativas”: uma expressão da moda ou uma demanda urgente? Lisboa, 10 de fevereiro de 2021. Disponível em: https://www.revistaponte.org/post/metodologias-ativas-uma-express%C3%A3o-da-moda-ou-uma-demanda-urgente Acesso em: 07 de março de 2021.


BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular: educação é a base. Brasília: MEC, 2017.


MORÁN, José. Mudando a educação com metodologias ativas. Coleção mídias contemporâneas. Convergências midiáticas, educação e cidadania: aproximações jovens, v. 2, n. 1, p. 15-33, 2015.



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